
Dia do Cerrado: fogo queimou área maior do que a de países como Chile e Turquia nos últimos 39 anos
O queimação queimou 88 milhões de hectares de Encerrado entre 1985 e 2023, de consonância com dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). A espaço queimada equivale a 43% de toda a extensão do bioma e supera o território de países uma vez que Chile e Turquia.
Em média, o bioma perdeu 9,5 milhões de hectares por ano para as chamas, superando os índices da Amazônia, que queimou 7,1 milhões de hectares anualmente.
Atualmente, 26 milhões de hectares do Encerrado estão ocupados pela lavradio, dos quais 75% são destinados ao cultivo de soja. O bioma responde por quase metade da espaço cultivada com o grão no Brasil, totalizando 19 milhões de hectares, segundo dados da Coleção 9 divulgados pela Rede MapBiomas, onde o Ipam coordena o mapeamento do Encerrado.
A outra metade, que ainda permanece em pé, corresponde a 101 milhões de hectares, representando 8% de toda a vegetação nativa do Brasil e garantindo o posto do Encerrado uma vez que savana mais biodiversa do mundo. Desse remanescente, 48% está nos estados da região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piaui e Bahia), que viu sua espaço de lavradio aumentar 24 vezes desde 1985. A região também concentra 41% do desmatamento registrado no bioma nos últimos 39 anos.
Desmatamento autorizado
Murado de 55% da vegetação nativa restante do Encerrado se encontra em áreas com CAR (Cadastro Ambiental Rústico) autodeclarado. O Código Florestal Brasiliano prevê que propriedades rurais no bioma mantenham ao menos 20% de sua espaço uma vez que vegetação nativa, a chamada Suplente Permitido. No entanto, parcelas que excedam essa proporção podem ser legalmente desmatadas, representando um risco para a preservação e a firmeza do bioma.
“Precisamos de políticas públicas e mecanismos financeiros que incentivem a conservação do Encerrado. Seguir com o desmatamento nesse ritmo trará consequências ainda mais graves para a regulação do clima e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no Encerrado”, ressalta Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM.
Por outro lado, 14,7% estão em áreas protegidas e públicas de uso coletivo, uma vez que unidades de conservação, terras indígenas e territórios quilombolas, que mantêm mais de 93% da sua vegetação nativa preservada. Apesar da preservação, o desmatamento em terras indígenas no bioma, por exemplo, aumentou 188% em 2023, comportamento oposto ao observado no restante do país, que registrou uma redução de 27% da espaço desmatada.
Incêndio
Embora possua tipos de vegetação que evoluíram para mourejar com queimadas, o regime oriundo do queimação tem sido demudado pelas secas frequentes e temperaturas extremas. O uso indiscriminado do queimação também está relacionado ao aumento dos incêndios, colocando em risco a biodiversidade lugar e a integridade dos ecossistemas naturais, de consonância com a pesquisadora do Ipam Vera Arruda.
“A crescente vulnerabilidade do Encerrado às mudanças climáticas e impactos humanos exige ações decisivas para sua reversão. É necessário implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem sistemas de monitoramento e apliquem leis rigorosamente contra queimadas ilegais. Outrossim, o manejo integrado do queimação, que combina prevenção, controle e uso planejado do queimação, é fundamental para manter a saúde dos ecossistemas, além de minimizar riscos de incêndios e preservar benefícios ecológicos”, destaca Arruda.
De consonância com dados do Monitor do Incêndio, entre janeiro e agosto de 2024, o bioma já teve 4 milhões de hectares afetados pelo queimação. Deste totalidade, 79% (ou 3,2 milhões de hectares) ocorreram em áreas de vegetação nativa. Esse valor representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano pretérito, quando 2,2 milhões de hectares foram queimados.
O mês de agosto de 2024 registrou a maior espaço queimada desde 2019, com mais de 2,4 milhões de hectares afetados no Encerrado, superando os valores observados no mesmo período nos anos anteriores.
Em agosto, um levantamento do Ipam revelou que dos 2,6 milénio focos de calor registrados no estado de São Paulo entre os dias 22 e 24 de agosto, 81,29% se concentraram em áreas de uso agropecuário (uma vez que as ocupadas pela cana de açúcar e pela pastagem) e surgiram em um espaço de 90 minutos.
Seca
O provisão hídrico do Encerrado também tem sido afetado pelas mudanças no clima e um padrão de chuvas cada vez mais imprevisível. A espaço de superfície de chuva oriundo no bioma registrada em 2023 foi de 696 milénio hectares, 53% a menos do que o observado em 1985.
O Encerrado possui 1,6 milhões de hectares cobertos por chuva, maior valor registrado em 39 anos, mas somente 37% estão em áreas naturais, enquanto 51% estão em áreas de hidrelétricas.
Nascente de nove das doze bacias hidrográficas brasileiras, o bioma também abrange uma região que abriga três grandes aquíferos: Guarani, Bambuí e Urucuia. Além da sua prestígio para o provisão da população, o ciclo da águam, de consonância com o Ipam, é necessário para a maior segmento das lavouras brasileiras, que dependem das chuvas para sua regadura.
“Temos observado que as áreas úmidas no Encerrado estão secando. Ainda, a expansão da lavradio sobre essas áreas vêm ocorrendo em algumas regiões no bioma, o que pode afetar o provisão hídrico e resultar em escassez de chuva para a população e para a lavradio, além de aumentar a vulnerabilidade a desastres climáticos e a perda de biodiversidade”, alerta Joaquim Raposo, pesquisador do Ipam.