Cerrado tem oito dos dez municípios com maior desmatamento

POR CAROLINA BATAIER, DO BRASIL DE FATO

Mais da metade de toda a dimensão desmatada no Brasil em 2023 está no Denso
. Em 38 anos – de 1985 a 2023 – o bioma perdeu 38 milhões de hectares, o que representa uma redução de 27% na vegetação original. Dos dez municípios mais desmatados em 2023, oito estão no Denso. Os dados são da plataforma Mapbiomas, que utiliza imagens de satélites para colher informações sobre os biomas brasileiros; e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

O desmatamento avança principalmente na dimensão da região nomeada de Matopiba, entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. É nessa região que fica São Desidério (BA), o município mais desmatado do país em 2023, quando perdeu 40.052 hectares de vegetação.

“O Matopiba é uma das áreas que mais tem vegetação nativa no Denso, mas é a região que está sendo mais ameaçada, que está sofrendo um processo muito veloz de conversão de vegetação nativa em outros usos”, explica Ane Alencar, Diretora de Ciência do Ipam e coordenadora da equipe Denso do MapBiomas.

A maior segmento das áreas desmatadas no Matopiba é ocupada por pastagens. “Mas tem uma dimensão cada vez mais de plantações, de cultivos agrícolas, principalmente a soja”, ressalta Alencar. Atualmente, 26 milhões de hectares do Denso estão ocupados pela lavradio. Desses, 75% são destinados ao cultivo de soja.

Razões do desmatamento no Denso

A devastação no bioma tem respaldo no Código Florestal, que determina que propriedades privadas no Denso preservem pelo menos 20% da vegetação nativa. Outro ponto em obséquio do desmatamento é a pouca quantidade de territórios protegidos no bioma, porquê as Unidades de Conservação (UCs), onde há normas mais rigorosas para a exploração do território.

O cenário de devastação, se não for controlado, pode trazer prejuízos até para o agronegócio, porquê avalia Dhemerson Conciani, pesquisador do Ipam. “Seguir com o desmatamento nesse ritmo trará consequências ainda mais graves para a regulação do clima e para os setores econômicos, principalmente o agronegócio, que depende do clima e dos recursos hídricos no fechado”, diz.

Os outros municípios com maior dimensão desmatada no bioma em 2023 são: Balsas (MA), Jaborandi (BA), Cima Parnaíba (MA), Baixa Grande do Ribeiro (PI), Rio Sono (TO), Cocos (BA) e Barreiras (BA). Fora do Denso, os municípios que entram na lista dos mais desmatados em 2023 são Altamira (PA) e Corumbá (MS).

Em oito meses, incêndio no Denso consumiu dimensão do tamanho da Suíça

Entre janeiro e agosto de 2024, o incêndio consumiu 4 milhões de hectares de mata no fechado brasiliano, sendo 79% de vegetação nativa. Esse valor representa um aumento de 85% em relação ao mesmo período do ano pretérito, quando 2,2 milhões de hectares foram queimados. Os dados são do Monitor do Queima, da plataforma Mapbiomas.

Embora o bioma possua tipos de vegetação que evoluíram para mourejar com queimadas, o regime procedente do incêndio tem sido substituído pelas secas frequentes e temperaturas extremas.

“A crescente vulnerabilidade do Denso às mudanças climáticas e impactos humanos exige ações decisivas para sua reversão”, avalia Vera Arruda, pesquisadora do Ipam. “É forçoso implementar políticas públicas que promovam a conscientização, reforcem sistemas de monitoramento e apliquem leis rigorosamente contra queimadas ilegais”, diz.

Nascente texto foi republicado do Brasil de Indumentária
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Foto: Marcelo Camargo/Dependência Brasil

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