Conheça a empresa que está mudando o mercado brasileiro de relógios vintage

Todas as noites de segunda, quarta e sexta, um grupo de aficionados por relógios vintage começa a se agitar. Por volta das 21 horas, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco depois, a I.V.U.W. anuncia, em sua conta de WhatsApp, as peças que serão vendidas. Primeiro entra uma foto do relógio, em seguida dados uma vez que marca e protótipo, número de referência, ano ou dez de fabricação, tamanho da caixa.

Depois vem o aviso de que todos os relógios serão entregues polidos, revisados, higienizados e com um ano de garantia. São serviços raros nesse mercado, tanto a segmento de revisão uma vez que a garantia. Dependendo do protótipo anunciado, acontece uma corrida para ver quem garante primeiro a peça. Muitas vezes as vendas são feitas em minutos.

“Alguns relógios saem muito rapidamente, sabemos que é venda certa”, diz Higor Lopes, um dos três sócios da I.V.U.W.. Entre as marcas preferidas dos clientes estão algumas mais específicas desse mercado vintage, uma vez que Universal Geneve, e outras mais conhecidas uma vez que Omega, com modelos uma vez que Seamaster ou Constellation dos anos 1960. Esses começam em R$ 3,2 milénio.

Entre os best sellers da I.V.U.W. estão o Omega Speedmaster, com preço médio de R$ 15 milénio; o Cartier Tank Must, com dezenas de variações de cor de mostrador, tamanho de caixa e movimento, entre R$ 6 milénio e R$ 10 milénio; e Rolex nas versões Oyster Perpetual e Datejust, com caixa de 34 ou 36 milímetros, a um valor médio de R$ 20 milénio.

 Garantia das peças e presença do dedo

A I.V.U.W. (acrônimo de iconics vintages uniques wartches), com sede em São Paulo, trabalha de uma forma dissemelhante da maior segmento dos vendedores desse universo. “Poucas coisas no mercado de relojoaria são tão complexas quanto compra e venda de relógios vintage”, explica Greg Duboc, colecionador e influenciador de relojoaria.

“Uma vez que são relógios de épocas em que não se tinha muitos registros, onde os padrões não eram 100% mantidos nem pelas próprias fábricas, e uma vez que são relógios que estão sendo usados por pessoas há muito tempo, ter crédito no vendedor é fundamental.”

Nesse caso, boa segmento da crédito dos clientes passa pela ótima informação da marca. Higor aparece nos vídeos postados na conta de Instagram da I.V.U.W., usando e falando sobre os relógios à venda, em sua vivenda, na rua ou dentro do carruagem. “As pessoas estão vendo a minha rostro e pensam: poxa, eu posso comprar um relógio dele. É quase uma vez que se estivessem na loja”, diz.

O outro diferencial da I.V.U.W é a qualidade com que as peças são entregues. A empresa tem parceria com a maior oficina de assistência técnica do país, autorizada de algumas das principais marcas suíças. Todos os relógios passam por uma revisão completa por lá. Se alguma nequice nascer, a empresa não vende o relógio e boceta com o prejuízo.

“O que eles estão fazendo hoje é conseguir transmitir a segurança para o comprador de que ele não está adquirindo um ‘frankenstein’ (uma vez que são chamados relógios modificados, com peças improvisadas no lugar de originais), entregando relógios realmente verificados, revisados e com garantia, mostrando históricos e proveniência”, diz Greg. “Isso tudo, coligado a uma presença do dedo muito fundamentada, coloca eles hoje num patamar supra do mercado.”

Higor Lopes e segmento do pilha da I.V.U.W.: sabor pessoal e prestígio para a relojoaria (Leandro Fonseca/Vistoria)

 O início da I.V.U.W.

Higor Lopes é um empreendedor serial. Abriu muitas empresas, fechou algumas, vendeu outras. Ex-atleta de triatlo e formado em governo de empresas, chegou a fazer estágio em uma empresa de seguros, mas logo percebeu que preferia trabalhar por conta própria.

Entre seus negócios passados estão dependência de marketing esportivo e oficina de customização de moto. Até que no início da pandemia sua vida mudou. “Minha família vem do ramo de sustento, panificação, pizzaria, bar, restaurante, meus avós fizeram isso a vida toda. Com os estabelecimentos fechados, meu pai me chamou um dia e disse que eles precisavam de ajuda.”

Higor investiu recursos e passou a se destinar aos negócios da família. Ao mesmo tempo estava montando vivenda e sua esposa passava por um tratamento de fertilização. “Foi uma era bastante dura, de muito sacrifício”, conta. Até que, um ano detrás, os relógios antigos se mostraram um hobby lucrativo.

“Herdei um relógio suíço do meu avô e sempre gostei de acessórios. Até que comecei a comprar uns relógios, revisava e vendia. Fiz uma página no Instagram, criei a marca da empresa, postava os vídeos. Comecei a vender 30, 40 relógios por mês, a um dispêndio baratinho, mas com margem absurda. Fiz uma grana que me ajudou muito nesse período.”

 A chegada dos dois sócios

Com a repercussão nas redes sociais e o sucesso subitâneo das vendas, Higor passou a receber muitas ofertas de investimento e de sociedade. Foi recusando todas. Até que duas propostas fizeram sentido. “Não era de verba que eu precisava, era de estrutura para crescer e parceria mesmo”, diz.

O primeiro a entrar para a sociedade foi o publicitário Cayto Trivellato, possuidor da premiada produtora e dependência Cabaret. Ele é quem garimpa, negocia e compra as peças. “Ele tem nos levado a procurar relógios mais diferentes, mais caros. E ele me desafia a vendê-los, me faz crescer. Sou muito grato a ele.”

Depois entrou Bruno Hamad, gestor de operações em mantimentos e bebidas. Organiza grandes eventos e foi o responsável, por exemplo, pela operação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. “Ele queria fazer segmento da sociedade e me perguntou qual era minha urgência. Eu disse que precisava de alguém para controlar o financeiro, tocar o operacional da empresa. Deu muito notório.”

Higor faz toda a informação e venda dos relógios. Depois de postar os relógios, faz os atendimentos, um a um, muitas vezes madrugada adentro. A frase mais geral de Higor, que já virou um bordão, é: “Vocês estão loucos de não terem comprado essa peça ainda.” A novidade formação da empresa, com os três sócios, tem seis meses.

 As regras para participar dos grupos I.V.U.W.

Os dois grupos de venda do WhatsApp têm mais de 1,2 milénio seguidores. Em outro grupo, com muro de 800 seguidores, a comunidade pode interagir, postar seus próprios relógios, tirar dúvidas. Algumas regras precisam ser seguidas dentro do grupo. Não é permitido falar de política, piadas sexistas são proibidas e anúncios de venda são restritos à I.V.U.W., entre outras.

Os relógios colocados à venda seguem alguns critérios. “Tem um pouco do meu sabor pessoal e um pouso do que é considerado interessante na relojoaria, o que os colecionadores dão valor”, diz Higor.

Relógios com quatro, cinco ou seis décadas de vida, cabe lembrar, muitas vezes apresentam marcas do tempo, uma vez que pátina no mostrador. É o que traz charme a essas peças. A I.V.U.W. revisa, lubifica e até faz polimento. Mas não restaura componentes e nem altera a identidade dos relógios.

Depois do início da I.V.U.W., outros vendedores de relógios vintage estão seguindo a mesma fórmula de anúncios mais interativos e serviço de revisão e garantia. Higor garante que não se importa. “Até ajudamos quem nos pede para entrar nesse mercado. Queremos fomentar a cultura da relojoaria no Brasil e temos muita crédito na primazia do nosso trabalho.”

Relógios vintage

Relógios vintage: cultura de uma era (Leandro Fonseca/Vistoria)

 Patek Philippe Aquanaut de R$ 150 milénio

Hoje, um ano depois da instalação e seis meses depois da atual formação societária, a I.V.U.W. vende entre 40 e 50 relógios por mês. No início eram exclusivamente relógios de ingresso. Recentemente, passou a oferecer Audemars Piguet, Vacheron Constantin, Patek Philippe. O relógio mais dispendioso vendido até agora foi um Patek Philippe Aquanaut, por R$ 150 milénio.

Somente de oficina a I.V.U.W. gasta mais de R$ 120 milénio por mês. De pulseiras de pele são entre R$ 8 milénio e R$15 milénio. O faturamento nos primeiros seis meses foi de R$ 1 milhão. Nos últimos seis meses, esse montante foi muito maior. “Todas as metas financeiras foram batidas nesses seis meses”, diz Higor.

A empresa compra e vende a maior segmento dos relógios. Algumas poucas peças são consignadas. A estrutura continua enxuta. “A gente tem um celular, duas máquinas de cartão e um carruagem”, afirma Higor. O único funcionário é o motorista que leva as peças aos clientes que moram em São Paulo e aos poucos vai entendendo um pouco mais sobre caixas e movimentos.

“O relógio é só consequência”

Mais do que poder oferecer relógios antigos em bom estado aos aficionados, Higor e seus sócios se orgulham de ter construído essa comunidade e conquistado o saudação de colecionadores tradicionais. Um deles, talvez um dos maiores do Brasil, é Douglas Gravina, que está nos grupos e interage com os clientes com frequência.

“O mercado vintage pátrio até portanto era muito restrito às mesmas pessoas”, diz Gravina. “Esse pessoal, o Higor, o Cayto, têm oferecido um novo vigor, uma força a esse mercado. Eles criaram um grupo de entusiastas desse cultivo do vintage que só tem aumentado.”

Gravina acredita que a dedicação dos sócios pode ajudar a gerar por cá uma cultura dos relógios vintage, que, ao contrário de países uma vez que Itália e Alemanha, é muito incipiente no Brasil.

“Esses rapazes, que são jovens, estão trazendo uma releitura para esse mercado. Torço por eles e libido sucesso sempre. Porque o mundo dos vintage não é só relógio. Pesquisando sobre as peças aprendemos sobre a cultura da era, o comportamento, a história. O relógio é a consequência.”

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