‘Trump Tractor’ traz recado para Brasília – mas, no mercado, quem manda é o fluxo

O ‘Trump Tractor’, ou a vitória com mais vantagem que o esperado de Donald Trump, nos Estados Unidos, definitivamente não é uma boa notícia para mercados emergentes.

A tese do America Great Again deve turbinar a economia americana e transformá-la num aspirador ainda mais potente de liquidez do restante do mundo.

Mas o comportamento dos ativos brasileiros no dia de hoje mostra uma leitura um tanto contraintuitiva.

O dólar chegou a sovar subida de 2% no prelúdios do dia contra o real e alcançou R$ 5,86, mas logo deu uma pirueta. Por volta das 16h, sobe 1,4%, superando o peso mexicano e a lira turca que também inverteram o sinal e se valorizam neste momento.

Da mesma forma, o Ibovespa chegou a tombar 1,5%, mas agora está próximo à segurança. A curva longa de juros, já pressionada, também não esticou – pelo contrário, fechou.

Há uma leitura doméstica: a expectativa que o resultado das urnas americanas traga um recado potente para o governo, que terá que dar sinais mais efetivos em relação ao ajuste fiscal para sofrear a desvalorização do dólar e fazer uma guinada mais ao núcleo.

“O governo está vendo esta vitória, com o dólar estruturalmente mais possante podendo impactar o real e a inflação. Portanto, tem uma urgência maior de vir com alguma coisa mais crível do lado dos gastos”, resume um gestor de ações com ampla experiência no mercado.

“Nesse sentido, seria um ponto positivo não terem anunciado zero antes e esperado a vitória do Trump.”

Mais que essa leitura, no entanto, há um ponto relevante: com juros já esticados e o real bastante desvalorizado, ficou barato demais para os investidores de mais longo prazo finalmente entrarem e arbitrarem.

“O gringo estava em compasso de espera olhando se ia possuir uma disparada muito grande no câmbio. Não teve. Ele olha: 13,5% com câmbio perto de R$ 5,90 sem muita volatilidade e entra. O fluxo importa”, pondera o CIO de um grande fundo de ações lugar.

Com a Bolsa barata e bons resultados na temporada de balanços, há investidores internacionais já olhando para cá com mais atenção. A BlackRock, por exemplo, vinha aumentando posição em Brasil, segundo fontes próximas à empresa.

Outro ponto: nos últimos meses, os institucionais locais tinham construído uma posição vendida em índice Bovespa horizonte para hedgear sua exposição em bolsa à véspera da eleição, que foi parcialmente desmontada hoje, dando mais fôlego à subida.

“O técnico estava muito, muito ligeiro”, resume um gestor de multimercados.

2026 é agora

O resultado dos Estados Unidos também antecipa nas mesas aquele que deve ser o trade para o próximo ano: a eleição presidencial de 2026 no Brasil.

“O resultado pode originar alguma dor de pequeno prazo, porém achei que é alguma coisa bullish, no sentido de que empurrará o governo para o núcleo e para a responsabilidade. Além de solidificar o cenário de centro-direita para 2026”, escreveu em post no Linkedin o CIO da TAG Investimentos, André Leite.

Nos últimos meses, os ativos de risco brasílio vêm operando em compasso de espera, na expectativa de um risk on caso se desenhe a possibilidade de vitória de qualquer candidato mais desempenado à austeridade fiscal e uma agenda pró-empresas na próxima eleição presidencial no Brasil.

Uma candidatura de Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, mormente depois da vitória de seus candidatos e da centro-direita nas eleições municipais, é alguma coisa que anima a maior segmento dos investidores.

Há quem especule ainda que Jair Bolsonaro possa voltar a se tornar elegível, com o PT entendendo que o antagonismo de Lula em relação a ele seja sua maior possibilidade de vitória.

A questão é que é provável fazer duas leituras a partir dos resultados nos Estados Unidos.

“O governo pode entender que precisa de austeridade fiscal e ir para a direção certa. Ou aposta que a esquerda precisa entregar o que prometeu, bracear para a base e prega a aposta, aumentando gastos antes do período eleitoral”, afirma um dos gestores.

Passada a incerteza sobre o cenário eleitoral nos Estados Unidos, o Brasil barato no cenário global, por sua vez, debutar a fazer qualquer preço.

Mas se o efeito Trump não atrapalhou, também não ajuda – e uma Bolsa mais possante, juros efetivamente mais baixos e um real mais considerado precisam de uma ajudinha de Brasília.

E que o ajuste fiscal efetivo vá além de um wishful thinking.

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