o sonho olímpico do maratonista Bashir Abdi

Simon Wohlfahrt

Maratonista Bashir Abdi treina em Ghent, na Bélgica, em novembro de 2023

SIMON WOHLFAHRT

Nasceu na Somália, cresceu na Bélgica e treina regularmente na Etiópia: Bashir Abdi, bronze na maratona em Tóquio há três anos, sonha com a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris, onde se sente “em moradia”.

“É Paris! Mal posso esperar”: o galeria de 35 anos estudou detalhadamente os 42.195 quilômetros que o aguardam, num trajectória exigente que terá início no prédio da Prefeitura de Paris (Hôtel de Ville) e passará por Versalhes, antes de retornar à capital para terminar na Esplanade des Invalides. Tudo isso com elevação máxima de 436 metros.

“Qualquer pessoa que já foi um dia a Paris sabe que 42 quilômetros no projecto é impossível”, diz o maratonista, que destaca um trecho principalmente difícil até o quilômetro 30. “Depois, até o final, é magnífico. Já não tem mais subidas e é pela Paris histórica, com os monumentos”, explica.

“Para nós, atletas belgas, são porquê os Jogos Olímpicos em moradia”, afirmou Abdi em uma entrevista à AFP meses antes do evento, no inverno de Ghent, cidade onde vive com a esposa e seus quatro filhos.

Uma lesão por fadiga no início deste ano o obrigou a permanecer dois meses parado, até voltar a percorrer em meados de março. Agora, o recordista europeu chega com a esperança de fazer um tanto grande em Paris.

“Espero estar mais inteiro que outros atletas”, disse por telefone semanas antes do ‘Dia D’, quando estava no meio de treinamento de Sululta, entre as colinas que circulam Adis Abeba, capital da Etiópia.

Antes de chegar a Paris, Abdi passou por Font-Romeu, nos Pirineus franceses, para uma última lanço de preparação na altitude.

A maratona dos Jogos de Paris, no próximo sábado (10), terá inevitavelmente uma atmosfera dissemelhante pela escassez do queniano Kelvin Kiptum, falecido em fevereiro em um trágico acidente de coche aos 24 anos.

“Foi um choque, uma perda enorme para o atletismo”, diz Bashir Abdi, que lembra principalmente da Maratona de Chicago de 2023, em outubro, quando Kiptum pulverizou o recorde mundial (2h00min35s).

“Lembro da véspera da corrida. Perguntei a ele qual era seu projecto para a prova. Ele respondeu rindo que ia tentar o recorde mundial. Desde o início da corrida, começou a voar”, conta o desportista belga, que terminou a maratona na terceira posição.

– “Nunca sonhei em ser galeria” –

A procura pelo ouro olímpico não era exatamente um sonho de puerícia de Bashir, que deixou a Somália quando tinha nove anos de idade.

“Quando eu era pequeno, nem imaginava que poderia viver outro esporte que não fosse o futebol”, conta.

“Nunca sonhei em ser galeria (…) Às vezes via pela televisão os quenianos dando voltas e voltas. No futebol estão correndo detrás de uma esfera, é um tanto vivo!”, sorri.

Pouco depois de chegar à Bélgica, Bashir se matriculou em um clube de futebol: “Minha mãe percebeu que eu fazia amigos e que meu conhecimento da língua flamenca estava melhorando, isso é fundamental quando você vai viver em outro lugar”.

Alguns anos depois, depois superar uma lesão no joelho e uma cirurgia, começou a se interessar pelo atletismo seguindo os conselhos de um camarada. O início não foi fácil, mas pouco a pouco foi aprendendo a gostar dos treinos.

Logo vieram as primeiras corridas, as primeiras vitórias e o início de uma novidade dedicação que perdura até hoje.

Com sua experiência, o que passa pela cabeça nos finais de corrida, quando a luta por posições é dura e a dor está muito presente? “Eu penso na minha preparação, nos sacrifícios: as concentrações, os treinos longe da família”, diz Abdi, falando também sobre a motivação única que é estar nos Jogos Olímpicos.

“Os Jogos são um tanto a se obter a cada quatro anos antes de realizar seus objetivos, seus sonhos. É um tanto magnífico, difícil de explicar, um tanto que mudou a minha vida”, garante.

Abdi participará de sua terceira maratona olímpica em Paris e, para ele, não deixa de ser um capítulo a mais de seu compromisso com seu país de adoção.

“A Bélgica não é conhecida exatamente por seus dias ensolarados”, brinca. “Mas a Bélgica é claramente o país onde me sinto em moradia. O país que nos acolheu”, conta com orgulho.

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