Um cenário para a taxa de câmbio até o final do ano

Marcos Santos/USP Imagens

Um cenário para a taxa de câmbio até o final do ano

Em meio ao conturbado noticiário recente, incumbi-me de realizar um dos exercícios mais inglórios daqueles que se propõem a projetar variáveis macroeconômicas. Munido de um padrão monetarista inspirado no item “The unbeatable random walk in exchange rate forecasting: Reality or myth?”
publicado no Journal of Macroeconomics por Imad Moosa e Kelly Burns em 2014, utilizei o diferencial das taxas de juros, da quantidade de moeda e do ritmo da atividade econômica à partir deum indicador da OCDE para projetar a taxa de câmbio até o final do ano – ela mesma, a que supostamente ensina humildade aos economistas –, com base em uma exemplar de janeiro de 2002 e junho de 2024 (sempre considerando a taxa de câmbio mensal no final do período).

O resultado pontual para dezembro deste ano: R$ 6,37. (Dizem por aí que os economistas utilizam casas decimais porque possuem siso de humor; oriente professor que vos escreve não faria dissemelhante). É simples que muita coisa pode suceder e esse é exclusivamente o núcleo das projeções, mas a questão é a tendência capturada pelo padrão: na falta de correção de rotas na economia brasileira e internacional, a tendência de desvalorização do real
não só veio para permanecer
, uma vez que também deve se frisar até o final do ano. O gráfico inferior dá a dimensão da situação.

Taxa de Câmbio
Gráfico

Taxa de Câmbio

Lembro que há meses  venho defendendo que as perspectivas para a taxa de inflação para oriente ano estão muito otimistas,
ainda que, finalmente, tenham chegado em  4%.
Não vão parar por aí, no entanto. Dá para juntar, tranquilamente, mais 0,35 ponto percentual nessas projeções medianas (mesmo que o chamo“mercado” demore um pouco para chegar lá).

Mas nesse caso, o(a) leitor(a) cauteloso(a) e já versado(a) em macroeconomia poderia se perguntar: não teria, portanto, uma tendência de valorização (no limitado prazo), já que isso implicaria uma política monetária mais contracionista que o cenário-base atual? Não necessariamente. Por quê? Porque temos (i) elevação de prêmio de risco em função da avaliação que o mercado financeiro faz da meio da política econômica brasileira e (ii) a eleição de Donald Trump, que é inflacionária para os EUA, o que pressiona os juros por lá e atrai capital que poderia figurar em países emergentes uma vez que o Brasil.

Em que pese certas correções ao longo do caminho, a tendência de moeda fraca parece que deve nos seguir até o final do ano. Acompanhemos.

P.S.: sinto-me obrigado a lembrar que oriente é um treino acadêmico de um cenário provável e que, em hipótese alguma, configura uma recomendação de investimento financeiro.

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