
O X da questão é a desorientação tecnológica da sociedade
A história do Twitter – agora rebatizado uma vez que X – é marcada por uma transformação profunda desde sua geração. Inicialmente concebido com a missão de erradicar a solidão no mundo, o Twitter acabou se tornando uma plataforma que, ao longo dos anos, evoluiu para maximizar o tempo dos usuários diante das telas. O noção de esfera pública contemporânea foi se solidificando, à medida que empresas e personalidades passaram a usar a plataforma para comunicados oficiais, interações públicas e, muitas vezes, embates políticos.
O ponto de viradela mais recente foi a compra do Twitter por Elon Musk. Sob seu comando, a plataforma foi renomeada para X, um nome que reflete uma novidade era, mas cuja natureza e propósito ainda são nebulosos.
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No Brasil, esse rebranding gerou um embate jurídico que parece mais uma comédia de erros ou, dependendo da perspectiva, uma tragédia institucional.
O embate no Brasil: instituições e poder tecnológico
O recente confronto entre o X e as instituições brasileiras expõe a tensão crescente entre as plataformas globais de tecnologia e as autoridades nacionais. De um lado, uma empresa que, por vezes, age uma vez que se as leis fossem sugestões; do outro, órgãos governamentais tentando reafirmar sua relevância na era do dedo.
Não seria surpresa se Elon Musk decidisse, em nome da “liberdade”, seguir as “regras ditatoriais monocráticas” impostas por um juiz brasiliano, somente para voltar ao status quo com algumas manobras jurídicas.
Enquanto o teatro se desenrola, questões mais profundas permanecem sem resposta. As redes sociais, uma vez que o X, tornaram-se ferramentas poderosas tanto para a frase cidadã quanto para a manipulação em tamanho.
A proliferação de deepfakes e outras tecnologias de desinformação são somente a ponta do iceberg de um problema muito maior.
A desorientação tecnológica e a precariedade social
No entanto, a questão vai além do impacto nos negócios e nas instituições. Psicólogos e sociólogos alertam para o prolongamento de uma geração profundamente desorientada.
A erosão das habilidades sociais e a concentração de renda promovida por esse protótipo tecnológico estão criando um envolvente de convívio cada vez mais precário. O sucesso tecnológico é comemorado, mas a lucidez emocional das pessoas parece estar em queda livre.
Enquanto as big techs comemoram números recordes de usuários, essas mesmas pessoas lutam para manter conexões significativas no mundo real. A tecnologia está criando um mundo cada vez mais inabitável para os seres humanos comuns, deixando felizes somente os entusiastas da tecnologia e os bilionários do Vale do Silício.
A procura por um estabilidade regulatório
Diante desse cenário, o que fazer? Banir todas as redes sociais ou deixá-las operar sem restrições são soluções também desastrosas. Precisamos de um meio-termo que inclua responsabilidade lítico para as plataformas, padrões claros de moderação de teor e uso de IA, principalmente em períodos eleitorais, além de promover a transparência algorítmica.
Na era do dedo, a soberania democrática e a liberdade de frase estão intrinsecamente ligadas à forma uma vez que usamos – e somos usados por – nossas tecnologias.
A complacência pode nos levar a um porvir onde a tecnologia, em vez de servir ao muito geral, nos transforma em meros operadores de inteligências artificiais.