Como a chegada do La Niña pode afetar os preços do café e chocolate; entenda

Um padrão climatológico de La Niña pode se formar ainda nascente ano, com especialistas em clima estimando uma verosimilhança de 70% de que o fenômeno ocorra entre agosto e outubro deste ano — e persista até meados de março de 2025.

Mas o que isso significa na prática? Durante um evento de La Niña, a temperatura do Oceano Pacífico na região tropical fica inferior da média, e esse resfriamento provoca uma série de efeitos climáticos, que incluem chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul.

A previsão é de que o fenômeno traga refrigério para produtores agrícolas que enfrentaram sérios problemas recentemente – isso inclui a possibilidade de indemnizar os danos causados por secas severas na África e das enchentes históricas no Rio Grande do Sul, por exemplo.

“Há uma relação muito potente entre El Niño e safras mais fracas e entre La Niña e safras fortes. Não é incomum em anos de transição de El Niño para La Niña ter grandes recuperações (no setor agrícola)”, afirmou ao jornal O Mundo, Jonathan Parkman, patrão de vendas agrícolas na corretora de commodities Marex.

Preços do moca, chocolate e açúcar podem ser afetados

Uma das safras que atualmente mais foi afetada por condições climáticas é a do moca. O Brasil é o principal produtor global de moca, responsável por 40% da produção mundial, escoltado pelo Vietnã, o segundo maior produtor – tanto cá uma vez que no Vietnã, problemas climáticos reduziram as estimativas de produção do grão.

No Brasil, a La Niña pode atrasar chuvas cruciais, ameaçando a produção da variedade arábica, o que pode encomiar ainda mais o preço da commodity, que recentemente atingiu o maior nível em mais de dois anos – o preço do moca robusta subiu de R$ 700 para R$ 1,2 milénio por saca de novembro do ano pretérito a julho deste ano, enquanto o moca arábica, que estava em torno de R$ 900, agora custa R$ 1,4 milénio.

No Vietnã, a La Niña normalmente traz mais chuvas — a umidade seria um refrigério bem-vindo para as plantações da variedade robusta atingidas pela seca. Por outro lado, se a La Niña chegar tarde demais no país asiático, as precipitações podem atrapalhar os trabalhos de colheita.

Açúcar

A seca que atinge a região Núcleo-Sul do Brasil está provocando problemas significativos nas plantações de cana-de-açúcar, com um aumento notável na isoporização.

Embora o tempo sequioso possa ser vantagoso para a moedura da cana, ele tem prejudicado a extração de açúcares e dificultado a cristalização. Isso ocorre porque o fenômeno está elevando a formação de açúcares redutores, uma vez que glicose e frutose, afirma Paulo Bruno Craveiro, exegeta da Datagro Consultoria.

A isoporização é um processo que desidrata os colmos da cana-de-açúcar e reduz o rendimento das plantações — a exigência compromete a qualidade, o peso e a densidade dos colmos. O principal fator que contribui para a isoporização é o florescimento indesejado das vegetação, diz Craveiro.

A La Niña ameaço piorar a situação, ao atrasar chuvas cruciais que normalmente ocorrem em setembro e no início de outubro. A redução das chuvas na América do Sul devido à La Niña pode atrasar o plantio e prejudicar ainda mais a produtividade para a próxima safra, segundo Trish Madsen, da Green Pool Commodity Specialists.

Cacau

Atualmente, o mercado mundial de cacau enfrenta o maior déficit entre oferta e demanda já registrado. Isso se deve a uma combinação de seca intensa e chuvas irregulares que afetaram severamente os principais produtores na África Ocidental – no entanto, o fenômeno de La Niña pode oferecer qualquer refrigério.

Se a La Niña chegar em agosto ou setembro, o aumento das chuvas ajudaria as lavouras africanas antes da colheita, afirmou ao jornal O Mundo Cade Groman, meteorologista do Commodity Weather Group – os mercados já precificam a expectativa de uma colheita melhor, com as cotações do cacau no mercado horizonte em Novidade York negociadas muro de 40% inferior do recorde de abril.

Soja e milho

No cenário de dois dos principais grãos do mundo, milho e soja, é principal falar de Estados Unidos e Brasil, principais produtores. Nos Estados Unidos, os anos de La Niña podem trazer seca e calor no inverno em alguns estados do sul e chuvas pesadas no noroeste do país. Também pode levar a uma temporada de furacões pior no sul.

Partes do Corn Belt, o cinturão agrícola norte-americano, podem enfrentar seca – em importantes regiões produtoras de soja, mormente mais para o setentrião, o clima pode permanecer mais indiferente e úmido do que o normal. Um excesso de umidade na soja pode promover doenças e comprometer a produtividade e o desenvolvimento do grão.

No Brasil, o clima mais sequioso e quente deve atingir a maioria das regiões produtoras de soja no sul do Brasil, com destaque para o Rio Grande do Sul, um dos principais estados produtores da oleaginosa no país.

“O sul do Brasil é geralmente a região mais afetada, enfrentando perdas significativas. Existe um padrão nesse sentido. Em contraste, o Núcleo-Oeste não costuma tolerar tanto com esses impactos. No entanto, ainda é cedo para fazer previsões definitivas. A expectativa é de que a ocorrência da La Niña deva ser mais fraca do que o habitual”, diz Luiz Fernando Gutierrez, consultor e perito no mercado de soja da Safras & Mercado.

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