Em Michigan, passado e futuro da indústria de carros mexe com a disputa entre Kamala e Trump

Detroit e Grand Rapids, Estados Unidos – Caminhar pelas ruas de Detroit traz a sensação de estar em um domingo, mesmo que seja uma quarta-feira. Nos bairros centrais, há poucas pessoas e carros circulando, que mal enchem as ruas e avenidas largas. Mesmo com o ar de marasmo em suas vias, Detroit já atraiu vários comícios de Donald Trump e Kamala Harris ao longo desta campanha. A cidade e o estado serão absolutamente decisivos para definir quem será o próximo presidente dos Estados Unidos

As pesquisas mais recentes mostram situação de empate técnico no estado. Um estudo feito pelo instituto Teoria, em parceria com a EXAME, apontou Kamala com 48% das intenções de voto, e Trump com 46%. Michigan tem 15 dos 538 delegados no Escola Eleitoral, que escolherá o próximo presidente.

Foi em Detroit que Trump anunciou propostas para tentar estimular a indústria de carros. Uma delas é a de dar desconto em impostos para quem comprar veículos: o gasto com juros de financiamentos poderia ser inferido, desde que sejam produzidos nos EUA. O republicano também promete aumentar tarifas de importação, uma vez que mais uma forma de pressionar os fabricantes a trazerem suas linhas de produção de volta

“Quando líderes estrangeiros e CEOs me ligarem para reclamar de tarifas, minha resposta será muito simples. Monte na América. Monte em Detroit, em Dearborn, ou Lansing, ou Grand Rapids”, disse Trump, no Detroit Economic Club, no dia 10 de outubro.

A EXAME percorreu estas cidades ao longo de dois dias, pois elas integram dois dos condados decisivos para a eleição deste ano: Wayne County, que inclui Detroit, e Kent County, que abrange Grand Rapids. Quem lucrar ali aumenta as chances de vencer em Michigan. E quem ocupar o estado fica mais perto de assumir a Vivenda Branca.

Ao visitar Flint, em Michigan, no prelúdios de outubro, Kamala também falou sobre o setor automotivo. Ela acusou o rival de fazer promessas vazias e se comprometeu a estimular a vinda de indústrias de carros elétricos aos EUA, uma vez que forma de gerar empregos.

Michigan já foi sinônimo da força industrial dos Estados Unidos. Detroit concentrava as montadoras de carros, na secção leste do estado. Do outro lado, perto da borda oeste (Michigan fica entre três lagos), está Grand Rapids. Nos dois casos, um fator ajudou estas cidades a se desenvolverem: as grandes reservas de madeira. Em Grand Rapids, elas ajudaram a fabricar uma indústria potente de móveis. Em Detroit, de veículos: os primeiros automóveis levavam muitas partes de madeira, e isso ajudou a cidade a se tornar a capital desta indústria, apelidada de Motor City. 

A Ford, que inventou a risco de produção, se estabeleceu em Dearborn, cidade vizinha de Detroit. Outros fabricantes também cresceram ali, uma vez que Dodge, Crysler e General Motors. Outrossim, havia rios e ferrovias que ajudavam a escoar os produtos e a cidade fica entre Chicago e Novidade York, dois grandes polos consumidores. Com base da geografia, Detroit criou um ecossistema de inovação automotiva, que lembra o Vale do Silício: no prelúdios do século 20, havia muita gente fazendo pesquisas sobre carros e criando empresas, que depois seriam absorvidas pelas companhias maiores ou se tornariam grandes marcas ao lucrar com a inovação. 

A região também tinha grandes áreas para receber os complexos industriais enormes que seriam criados para produzir veículos. Essas estruturas demandavam milhares de trabalhadores, e Detroit atingiu 1,6 milhão de habitantes em 1930, se tornando a quarta maior cidade dos EUA. Em 1950, Detroit atingiria seu recorde, de 2 milhões de pessoas. 

Enquanto crescia, Detroit priorizou os carros. Fez vias expressas para conectar bairros distantes às fábricas, onde pedestres não têm vez. As rodovias urbanas estimularam um espalhamento da cidade, com mais gente morando nos subúrbios, o que esvaziou os bairros mais centrais. 

Ao mesmo tempo, posteriormente os anos 1950, a indústria automotiva americana reduziu a marcha e buscou novos rumos. Um deles foi a concentração, com Ford, GM e Crysler ganhando espaço em meio à falência de concorrentes. Outros foram o progresso de automação, que reduz a premência de trabalhadores, e a descentralização, com a produção espalhada em vários lugares, para trinchar custos.

Nos anos 1970, a indústria automotiva americana teve outro grande choque, com a crise do petróleo e o aumento de concorrentes estrangeiros, de países uma vez que Alemanha e Japão. A partir daí, Detroit entrou em um processo de encolhimento e desleixo progressivo, tal qual vértice viria em 2013: a prefeitura decretou falência, pois não tinha mais uma vez que remunerar as contas. 

Efeitos na política

As mudanças econômicas foram seguidas de movimentos políticos. “Quando eu me mudei para cá, nos anos 1970, os republicanos eram muito fortes. Mas eles foram perdendo força desde logo”, conta Ronald Stockton, professor emérito de ciência política da Universidade de Michigan, em uma conversa com a EXAME nos fundos de sua vivenda em Deaborn, cidade vizinha de Detroit.

“Na região oeste do estado, temos muitas pessoas de origem holandesa e mais conservadoras religiosas, que tendem a ser republicanas. Em Detroit, onde há a base industrial, as pessoas tendem a ser mais democratas”, prossegue Stockton.

Ele comenta que na região de Detroit, há mais pessoas negras, que tendem a votar nos democratas, mas seu comparência sobe e desce conforme o apelo do candidato. “Quando Obama estava na cédula, o comparência foi cima, mas quando Hillary estava na disputa, ele caiu, e isso teve papel importante em sua guião”, comenta o professor. 

Hillary perdeu para Trump no estado em 2016 por muro de 10 milénio votos de diferença.

“Você não precisa de 20% dos eleitores para mudar o resultado. Dois ou três por cento já podem fazer a diferença. Se Hillary tivesse vindo mais ao estado, dito ‘oi, Michigan! Eu senhor vocês’, ela podia ter levado o estado, mas ela não fez. Esses pequenos fatores podem fazer a diferença”, diz.

Stockton vê a cidade em seu melhor momento em alguns décadas, e conta uma história ilustrativa. “Uma vez, uns 20 anos detrás, tinha uma notícia no jornal: uma vivenda foi construída em Detroit. Em um ano inteiro, exclusivamente uma vivenda foi construída. Aí colocaram o possuinte na primeira página do jornal”, diz.

Porquê a cidade tinha muitas casas abandonadas, a prefeitura facilitou a venda de imóveis abandonados, a preços mais baixos. “Você podia comprar uma vivenda, colocar ela aquém e fazer uma novidade vivenda, ou fabricar um negócio. Gente muita rica começou a comprá-las e agora há empresas que possuem grandes terrenos em Detroit, que poderão virar fábricas ou galpões. Há muitos terrenos prontos para isso”, diz o professor. 

Um dos lugares onde isso vem ocorrendo é em Corktown, um bairro perto da estação de trem de Detroit. O lugar tinha potente presença da comunidade irlandesa há século anos, mas entrou em decadência conforme foi sendo menosprezado e ninguém mais queria viver ali. Agora, os preços começam a permanecer proibitivos. Ali perto da estação, há vários prédios novos, que alternam moradias, instituições de ensino e escritórios, com uma arquitetura em risco com o estilo de prédios que vem se espalhando pelas cidades médias dos EUA: prédios mais baixos, com fachadas de vidro e metal e um pouco de cor. 

Um estudo divulgado em julho pela universidade Florida Atlantic apontou que Detroit tem registrado uma das maiores altas nos preços de imóveis no país. O dispêndio de algumas casas chegou a subir 40% de um ano para outro.

Rua no bairro de Corktown, em Detroit, Michigan (Rafael Balago/Fiscalização)

Stockton avalia que secção das melhorias tem relação com o vasto pacote de investimentos em infraestrutura confirmado pelo governo de Joe Biden no prelúdios de sua gestão, para melhorar pontes e estradas e fomentar a transição energética. “Há um tremendo impacto quando você joga um trilhão de dólares na economia e diz ok, faça um tanto pela sua cidade”, diz. 

O estado tem intermitente a preferência política nas eleições presidenciais desde os anos 1930. Nos anos 1960, houve três vitórias democratas. De 1972 a 1988, cinco vitórias republicanas em sequência. Depois, seis conquistas democratas, de 1992 (com Bill Clinton) a 2012 (com Barack Obama). Em 2016, ali houve vitória de Donald Trump e, em 2020, Biden venceu.

O estado é governado desde 2019 pela democrata Gretchen Whitmer. Ela foi reeleita em 2022 e ficará no incumbência até 2027.

O clima em Grand Rapids

Do lado oeste de Michigan, em Grand Rapids, as ruas são menos desertas e mais arrumadas que em Detroit. A economia é mais diversificada, e a cidade, de 195 milénio habitantes, segue o padrão geral no interno dos Estados Unidos: uma espaço médio com algumas quadras, onde ficam órgãos públicos, escritórios e alguns bares e restaurantes, cercados de aglomerados de casas típicas americanas que se estendem por quilômetros. 

Enquanto Detroit fez riqueza com carros, Grand Rapids cresceu com a indústria de móveis. “Por muito tempo, fabricávamos cá móveis para as casas. Havia convenções do setor, as pessoas vinham para cá comprar e ver novidades. Mas as coisas mudaram, as fábricas foram para outras partes. No entanto, ainda fabricamos cá muitos móveis para escritórios”, conta Janet Korn, vice-presidente da Experience Grand Rapids, uma escritório sítio de turismo.

Rua de Grand Rapids, em Michigan (Rafael Balago/Fiscalização)

Korn levou a EXAME para um passeio no Frederick Meijer Gardens, um espaço ao ar livre que combina parque, paisagismo e obras de arte, no padrão do Inhotim brasiliano, criado em 1995 com doações de Meier, um empresário que começou com um mercadinho na região, nos anos 1960, e depois criou uma rede de supermercados que o tornou bilionário. 

Com a perda do espaço da indústria, Grand Rapids procura variar a economia de várias formas, e o turismo é uma delas. O setor de lazer e hospitalidade responde por muro de 55 milénio empregos, 10% dos postos de trabalho não-agrícolas da região, segundo dados do Departamento do Trabalho. Isso equivale a metade das vagas do setor industrial (112 milénio). Serviços de instrução e saúde também ganham força, e já empregam quase 100 milénio habitantes locais. 

Em Kent County, que inclui Grand Rapids, Trump venceu em 2016 e em Biden em 2020. Para o professor Doug Koopman, professor de política na Universidade Calvin, o perfil moderado dos eleitores e o peso da política sítio ajudam a explicar esse movimento pendular. 

“Uma coisa que os observadores de outros países não percebem é o quão locais os partidos políticos são nos Estados Unidos. Michigan tem 83 condados, e o Partido Democrata de um condado é ligeiramente dissemelhante do de outro. Do lado republicano, a mesma coisa”, diz.

Koopman explica que no oeste de Michigan, os dois partidos tradicionalmente mantêm uma postura mais moderada, independentemente das ondas políticas, e que essa maior ponderação se reflete no perfil dos candidatos. “Apesar do contexto vernáculo, você pode encontrar muitos democratas pró-vida (antiaborto) no Oeste de Michigan, e muitos republicanos que defendem a proteção ambiental e direitos trabalhistas”, aponta. 

Rua de Grand Rapids, em Michigan (Rafael Balago/Fiscalização)

“Porquê pesquisador político que vive e trabalha cá, é risonho. É um lugar interessante para trabalhar”, brinca.

O professor explica ainda que os eleitores também têm mudado de partido na região. “Muitos eleitores de maior escolaridade migraram do Partido Republicano para o Democrata, e muitos brancos da classe trabalhadora deixaram os democratas para apoiarem republicanos”, afirma. 

Ele destaca que muitos latinos de segunda ou terceira geração (filhos ou netos de imigrantes) estão ficando mais propensos a votarem em republicanos, enquanto muitas pessoas com nível superior e maior envolvimento religioso estão migrando para os democratas, por os considerarem mais abertos a debates. 

É nessa miscelânea política e econômica, onde o pretérito nunca passou de verdade, que Kamala Harris e Donald Trump precisarão recrutar votos. Uma coisa é certa: vencer por lá é sinal alvissareiro para qualquer candidato. Desde 2008, quem ganhou no Michigan, ganhou também a presidência.

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